terça-feira, 27 de julho de 2010 1 comments

A Criança em Ruínas

Há cerca de dois anos, recebi da Amiga-Portuguesa o livro de poemas "A Criança em Ruínas" de José Luís Peixoto. O autor está sendo considerado uma das grandes revelações da literatura portuguesa. Confesso que não conhecia nem a fama, nem os livros - só os descobri há pouco, ao procurar informações para colocar neste blog (confira aqui). Foram os poemas que me cativaram.

"A Criança em ruínas" trata da sucessão de perdas, de desilusões que separam a infância da vida adulta. Se a infância é o tempo da alegria, da família - sua ruína é a morte do pai, da mãe e a distância em relação às irmãs. Só o amor é capaz de dar alento ao poeta, mas este descobre no "eu te amo" apenas um instrumento para o prazer. Morte e desilusão amorosa são portanto as duas esferas em que se consolida a ruína da criança - duas esferas bem marcadas na organização do livro com simples e claros I e II.

A parte I é marcada pelo tempo do poema:

"o poema é quando eu podia dormir até tarde nas férias
do verão e o sol entrava pela janela, o poema é onde eu
fui feliz e onde eu morri tanto, o poema é quando eu não
conhecia a palavra poema..."

Tempo em que havia domingo, bem definido em o silêncio solar das manhãs.


A parte II é dedicada ao amor, ou antes, ao desamor, à separação. A amada também remete à infância,

"de quando ficávamos juntos à porta da tua avó e para as pessoas que passavam
éramos namorados".

Fragmentados ao longo dos poemas estão o amor de criança, os sonhos de união, os primeiros toques, mas também as primeiras lágrimas, o entender a felicidade como silêncio:

"eu acordarei nos teus braços e não direi
nem uma palavra, nem o princípio de uma palavra, para não estragar
a perfeição da felicidade"

Mas não estará neste silêncio, a razão de toda perda?

"na noite. olhávamos pela última vez e despedimo-nos sem sequer
nos conhecermos."


A Criança em Ruínas
José Luís Peixoto
Edições Quasi
ISBN 9789895521685



sábado, 17 de julho de 2010 0 comments

De Storm



Um vulcão no meio de Los Angeles, uma era glacial súbita, vários tipos de meteoros, os mais diferentes povos extraterrestres, o cinema americano não tem mais por onde inventar cenas apocalípticas. Há algumas semanas, assisti a uma versão holandesa do "apocalipse". Ao invés de puro delírio de cineasta, cenas gravadas combinadas a vídeos da época. "De Storm", filme de Ben Sombogaart lançado em 2009, trata da grande imundação de 1953, quando o dique de Zeeland simplemesmente não aguentou a força das águas.

Naquela época, as equipes meteorológicas locais não trabalhavam à noite e, por isso, ninguém percebeu o estrago iminente. Foi preciso amanhecer para que o resto da Holanda e o mundo soubessem o que havia acontecido. Mais de 1800 pessoas morreram.

O filme conta essa história do ponto de vista de uma jovem de 18 anos mãe solteira. A garota, hostilizada pela sociedade da época, parte numa busca deseperada pelo bebê que ela sabe estar vivo, mas que é assumido como morto. Junto com ela, vamos nós expectadores, por um mundo de solidariedade e cobiça; de homens que juntos trabalham para reconstruir o dique; e de donos de hotéis que cobram fortunas dos desabrigados que esperam por socorro.

O trailler pode ser visto aqui. O vídeo acima é da banda holandesa Blof.

Geef niet op! Don't give up!
segunda-feira, 12 de julho de 2010 2 comments

WK

Há tempos não se via Amsterdam tão holandesa. Até no dia da Rainha, a festa é dos turistas e estrangeiros. Mas, ontem, Amsterdam era holandesa. O Inglês deu lugar ao Holandês. Aqui e acolá, uma bandeira espanhola. O respeito pelo outro está acima de tudo — sempre!

Chegamos ao Museumplein exatamente na hora do jogo. Já no hino uma ironia

Een Prince van Oranje
ben ik, vrij onverveerd,
den Koning van Hispanje
heb ik altijd geëerd

(Um príncipe de Orange,
eu sou, livre e sem medo.
O rei da Espanha,
eu sempre honrei).

Memórias de um tempo em que os espanhóis mandavam por aqui. Os telões eram gigantescos, mas faltaram colinas para que fosse possível enxergá-los de longe. Caminhamos. Todos de Laranja, a cor da dinastia. No caminho uma imensa TV em uma loja e algumas pessoas assistindo ao jogo dali. Paramos. Era preciso ver o jogo, mesmo que o que víamos era decepcionante.

Intervalo.

Leideseplein. O laranja das camisetas dava lugar a corpos suados, tatoos. Cerveja. Pouca. Por 5,20 euros, ninguém se arriscava — e, geralmente, quem o fazia se esquecera de perguntar o preço. Hop Hop Holland! Em tempos de WK, não se grita Netherlands — nome criado para dar mais autonomia aos países baixos, especialmente a Frísia e Limburgo. Hop Hop Holland! E eles lutaram... Mas Robben perdia todas as oportunidades criadas. Que maldito treinador não colocou Wesley Sneijder na frente? Irritações do Namorado... Eu apenas assisto. E torço. Muito. É preciso vencer.

Intervalinho.

O duelo recomeça. Os guerreiros milhonários já estão cansados. Questão de tempo para ver o triunfo espanhol. O cartão vermelho encerra a luta. Calma, ainda há chance, eles têm de levar para os penaltis. Não o fazem. Desejam a vitória, mas já estão fracos para lutar. E de repente, gol. Let’go home.

How? I’m hungry... Ok, let’s eat first. O jogo ainda não terminou, mas as filas já começam a se formar.

So, where we go? Everybody is going to the Centraal. Better to go to Zuid.

Silêncio. Amsterdam queria ouvir mais Holandês, mas só pôde ouvir o silêncio.

O silêncio é quebrado apenas por casais que discutem. As mulheres lembravam que era só um jogo, brincadeira. Os homens lembravam que o futebol é a guerra dos tempos de paz. Era preciso vencer. Mas não venceram. A derrota da seleção revitaliza as próprias frustrações.

De Leideseplein a Zuid. 30, 40 minutos? Não tínhamos relógio. Apenas sei que chegamos à estação meia-noite e cinco. Trem. Em 15 minutos estávamos em Hoofddorp. Cadê a chave da bicicleta? Procura-se... Enfim, encontramos no chão, ao lado da bicicleta. Terá caído neste minuto ou há horas atrás? Melhor agradecer ao Papai do Céu. Home. Rose wine. Internet. WOW! It is already 3.30. Good night.
sexta-feira, 9 de julho de 2010 0 comments

Trinta anos sem Vinicius



As poesias do Vinicius podem ser encontrada na Brasiliana da USP. Infelizmente, eles não disponibilizaram as crônicas, menos conhecidas. Como não tenho os livros por aqui, me lembrei de crônicas que li no colégio, sobre os "tipos", com os quais nos deparamos ao ir ao cinema. A imagem do "chupador de caramelos" nunca saiu da minha cabeça. Ao procurar na internet, "Vinicius e cinema", acabei a encontrando aqui.
terça-feira, 6 de julho de 2010 3 comments

Um país de preconceitos

A Globo - não posso dizer sempre a Globo, pois temos também a Veja e o UOL para nos envergonhar. No Observatório da Imprensa - o melhor lugar para saber o que está acontecendo no Brasil -, saiu uma critíca severa à reportagem (ou palhaçada) da Globo, veja aqui. Lamentável!
sábado, 3 de julho de 2010 0 comments

O Jornalismo marrom ataca novamente

"Indiferentes à Copa, índios trocam os jogos do Brasil por 'peladas' no quintal", esse é o título de uma reportagem aparentemente despretenciosa no UOL. Só aparentemente... A reportagem é uma clara demonstração do anti-indigenismo da imprensa brasileira (haja vista, o caso Veja X Viveiros de Castro).

A jornalista visitou uma comunidade indígena Guarani durante o jogo do Brasil e viu poucas pessoas no centro comunitário assistindo ao jogo e crianças jogando uma pelada no quintal. Dessas duas imagens, concluiu "Torcer pela seleção brasileira à maneira indígena é sinônimo de vestir e enfeitar as casas com algum verde e amarelo, mas sem abandonar o ritmo desacelerado de hábito nem sofrer ou se revoltar pelo resultado". No decorrer do texto, entretanto, o diretor da Associação Indígena explica que muitos estavam vendo o jogo em casa (mas a jornalista não se deu ao trabalho de visitar as casas para ver). Os que foram ao centro, saíam antes. Demonstração de falta de interesse? Dá a entender a jornalista do UOL... Eu diria que é o jeito deles de se comportarem diante de um jogo patético... (Meu Namorado, holandês, ao ver a linda atuação do Brasil no comecinho do primeiro tempo, também levantou e foi levar o lixo pra fora - demonstrando que não queria ver seu país levar uma goleada).

A jornalista só en passant cita o fato dos Guarani enfeitarem as casas de verde-amarelo e não comenta o fato das fotos mostrarem crianças com camisetas do Brasil. Um lugar muito pobre, mas ainda assim gastaram dinheiro com decoração e camiseta. Isso não é torcer pelo Brasil?

Eu não estava lá para ver... Mas nas comunidades indígenas em que estive no Rio Negro, sempre vi demonstrações quase ufanistas de patriotismo. Vejam as fotos:


Toda sexta-feira em Anamuim (Rio Xié), as crianças cantam o Hino Nacional e hasteiam a bandeira (foto de 2007)


Boa Vista (Içana) se preparando para o Desfile de Sete de Setembro, que reuniu na comunidade vários indígenas da região. Nesta mesma comunidade, eu vi todos cantando o Hino no dia do soldado. (Não me lembro de festa ao soldado na minha escola em Sao Bernardo do Campo).
sexta-feira, 2 de julho de 2010 0 comments

De capital das reformas sociais à capital da barbaríe

No ano em que eu nasci, 100 mil pessoas se reuniram em São Bernardo do Campo para exigir uma jornada de 40 horas semanais, para que houvesse maior estabilidade de emprego (pelo menos, 12 meses) e para repôr o prejuizo salarial de anos de inflação (a Ditadura mascarava os dados oficiais de inflação, de modo que os reajustes salarias não eram concedidos aos brasileiros). Os lideres desse movimento se reuniam na Igreja Matriz, em plena Marechal Deodoro - o coração da cidade... É emocionante a foto de Lula e outros lideres dentro da Igreja com a polícia lá fora. Pena que eu não achei a foto na internet, mas a Revista de História da Biblioteca Nacional conta essa história aqui.

Trinta anos se passaram... E hoje em dia, "estudantes" - gente estudada e não esses operários sem faculdade (como se diz lá em Sao Bernô) - manifestaram contra o vestido vermelho de uma aluna. Ontem foi o julgamento do processo da aluna contra a UNIBAN... Independente do resultado, o que diabos aconteceu com São Bernardo do Campo nesses últimos trinta anos? Que vergonha!!!
 
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