domingo, 28 de fevereiro de 2010 0 comments

Uma guerreira no estudo do Sateré

Há cerca de seis ou sete anos, uma jovem amazonense formada na UFAM se propôs a estudar uma língua indígena de sua terra. Com o apoio do Prof. Stefanni, a garota escreveu um projeto e enviou para universidades públicas do norte. Apenas por desencargo de consciência enviou também para a UNICAMP.

Por ironia, as universidades do norte não estavam interessadas nessas tais de línguas da terra. E foi a conceituadíssima UNICAMP que aceitou a jovem. A garota vendeu um fusca velho e foi em busca de um sonho. O marido a apoiou na decisão e a filhinha foi junto.

Muito estudo, rendeu-lhe uma análise fonológica e agora a Doutora Raynice descreveu a morfologia e a sintaxe dos Sateré. Na platéia, estavam o marido e as crianças, claro. O melhor de tudo é que ela agora é professora da UFAM e poderá orientar outras 'raynices, frantomés, ana carlas' amazônicas a estudar as línguas de suas terras.
domingo, 21 de fevereiro de 2010 1 comments

A noite feminina em cidades pacíficas: Amsterdam e Gabriel




Ontem, encontrei amigas em Amsterdam e fomos ao Lolas, um bar com música alta, cheio de gente bonita. Cada uma veio de um canto da cidade e nos encontramos em Leidseplein. Para voltar para casa, cada uma também seguiria seu destino individualmente.

Em São Gabriel, eu e a Amiga-Professora-Educação-Física também saíamos bastante sozinhas. Iamos ao Puranga ou ao Kuka - os bares frequentados pelo pessoal da saúde e militares. Mais tarde, fiz outras amizades, com mulheres que viviam na cidade, e passei a dançar no Pé de Cará.

Amsterdam e São Gabriel permitem que suas belas mulheres saíam sozinhas - para dançar, para beber, para paquerar -, porque conciliam segurança e transporte noturno de qualidade. Em Amsterdam, qualquer garota pode pegar um ônibus, que tem horário certo para passar, e ir para sua casa tranquilamente. O preço varia entre 3,90 (dentro de Amsterdam) até 6 euros (para cidades mais distantes, como a minha Hoofddorp). Em Gabriel, é ainda mais fácil, as lotações esperam os clientes na frente dos bares. Basta pagar 5 reais e te levam para qualquer lugar da cidade.

Transporte de qualidade com preço razoável e segurança garantem a liberdade que as mulheres paulistas e cariocas perderam há muito tempo.
sábado, 20 de fevereiro de 2010 1 comments

Minha lista de filmes (2009)

O UOL acabou de publicar a lista dos melhores filmes do ano segundo os críticos. Esses caras listam filmes que não estão nos grandes circuitos - e que muitas vezes são de fato fantásticos. Lembro-me do tempo de colégio, em que a Amiga-Jornalista (na época, Adolescente-Intelectualizada) nos convencia a ir ao Belas Artes.

Minha lista de 2009 é completamente holywoodiana, curtinha e totalmente influenciada pela moda 3D:

Gran Torino - Cito Sérgio Alpendre : "Eastwood consegue a proeza de se repetir e ao mesmo tempo realizar uma tocante ode à amizade e à diferença"

Up - Na primeira parte do filme, vemos em um trailer a crueldade com que a vida real trata pessoas simples. Na segunda parte, tudo se transforma em sonho e magia, como se espera de um filme da Pixar.
Fui assistir o filme com uma garotinha de quatro anos. No final, ela perguntou para sua mãe: "Mãe, cadê a velhinha?". A mãe, estabanada, respondeu de sopetão: "A velhinha morreu, oras". Duro para um filme infantil, não?

Avatar - Não poderia faltar o lançamento de final de ano que mais arrecadou na história do cinema. O que dizer? Lindo, mas ainda prefiro a minha floresta real, não maniqueista, sem o mito do bom selvagem de Rousseau. Vale a diversão e o explendor da tecnologia bem usada.
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010 0 comments

O espírito olímpico dos homens de gelo

O Comitê das Olímpiadas de Inverno - aquelas que nós brasileiros ignoramos completamente - decidiu cancelar a prova de salto com esqui feminino. Trata-se da única prova em que as mulheres - sempre as mulheres - não podem participar. Se não há espectadores, incentive-os! A Olímpiada é o grande momento de incentivo ao esporte.

Para saber mais (e tentar fazer algo): Let Women Ski Jump
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010 2 comments

Sobre o tráfico...

Quando cheguei em São Gabriel em agosto do ano passado, fui abalada pela notícia de um crime hediondo: um jovem havia sido posto em chamas. O motivo? Os índigenas com quem eu trabalhava e os motoristas das lotações logo me esclareceram: tráfico.

Há pouco mais de cinco anos, dizem os moradores da cidade, este tipo de crime era impensável, fazia parte apenas do imaginário popular do que seriam cidades grandes como Barra (Manaus), Rio ou São Paulo.

Por que jovens gabrielenses - filhos de comerciantes, caboclos ou índigenas - se envolvem com o tráfico? A resposta é a mesma que leva jovens de favelas no Rio, imigrantes africanos nas ruas de Amsterdam: dinheiro. Variam, claro, as moedas e os valores. Uma viagem de Sao Gabriel à Manaus de voadeira não vale mais que mil euros (o que é rídiculo se pensarmos no risco).

Não há dúvida de que esses garotos devem ser punidos, mas o que dizer dos usuários? Todos reconhecemos que este é uma vítima, que o vício é uma doença, mas até que ponto jovens de classe média alta - paulistanos, cariocas, europeus - foram iludidos? O vício é uma doença, sim, mas também uma escolha: escolhe-se "experimentar". O usuário, por sua própria situação, está condenado, mas, ao decidir se destruir, condenou também jovens que nunca tiveram escolhas.
 
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