domingo, 9 de maio de 2010 2 comments

A vovó

De algum lugar no norte de Minas Gerais - uma Minas Gerais, com cara de sertão, longe, muito longe das riquezas que deram o nome ao estado - nasceu a vovó. Da infância, pouco sabemos. Sabe-se que vinha de família humilde, que a casa era de pau-à-pique (onde habitava também o barbeiro, cujo ferrão deixou-lhe marcada para vida toda). Da onde vinha a família? Permanece o mistério bem brasileiro - talvez africanos, talvez portugueses, e a vovó lembra sempre de "uma avó que o avô foi buscar no mato".

Em Minas conheceu o vovô
Em Minas nasceu o primeiro filho.
E ali começou a viagem...
Primeira parada, Regente Feijó, nasceu o papai.
Mais adiante, Pirapozinho, nasceu a titia.
Cinco anos mais tarde, a família já estava em Santo André, onde nasceu a caçula.

O menino mais velho e a menina mais velha eram muuuuuito especiais, por isso a vida da vovó passou a ser dedicada a cuidar deles. A filha caçula a ajuda nessa missão. E o "folgado do meu pai" lhe presentou com os netos e com a nora que ela adora - não estou sendo irônica, a vovó se dá super bem com a mamãe.

Falar da vovó é falar da família. Mas também é falar de uma cultura enoooorme. Cultura que não adquiriu nos livros - indecifráveis para ela. Mas cultura de mulher brasileira. A vovó não se importa em entrar em um terreno baldio para coletar uma planta (que só ela é capaz de identificar) e dali criar um remédio. Os mais importantes planta em vasos no quintal, onde também estão flores lindíssimas - daquelas que só brotam na casa da vovó - e as cachorrinhas vira-lata que ela e a tia vivem adotando.

E já que estamos na hora do almoço, que saudades da comidinha simples da vovó. Frango de panela, o feijão mais gostoso do mundo, Mmmmmmmmmmmm....

FELIZ DIA DAS MÃES!!!!!!!!!!!!




Vovó, meu irmão mais velho, e o netinho (meu sobrinho - que saudades!!!)


Vovó, eu (eu sei, a foto está bem louca), titio e titia
sábado, 1 de maio de 2010 5 comments

O Bongo - a canoa e o livro





Com quantos paus se faz uma canoa? Um! Apenas um!

Os Werekena, povo Arúak, usam apenas um grande tronco de madeira para construir o "bongo" - uma canoa gigantesca que serve para a comunidade de Anamuim no Alto Rio Xié levar seus produtos até São Gabriel da Cachoeira. Uma viagem impressionante tanto pela beleza natural quanto por permitir que os Werekena de cada parte do rio troquem mensagens, discutam política, revejam os parentes, etc.

Em 2006, os professores da Escola Indígena Diferenciada de Anamuim propuseram aos seus alunos de ensino fundamental que acompanhassem os mais velhos na construção de um bongo comunitário. Os professores aproveitam o tema para explicar aos alunos conceitos de medida, aerodinâmica, etc. O livro mostra também como todos os membros da comunidade e parentes de comunidades vizinhas se juntam para construir o bongo.

O resultado da pesquisa desses jovens indígenas transformou-se em um livro ilustrado, em que são descritas detalhadamente todas as etapas da construção: a escolha da árvore, o corte, a tarefa de esculpir a canoa na madeira, a queima, até a festa da primeira viagem.

Quando estive em Anamuim, trabalhei com os professores na edição do manuscrito para a forma digital. A pedido dos próprios autores, fizemos uma tradução para o Português (que fica no finalzinho do livro para não atrapalhar a leitura dos falantes de Nheengatú). No ano passado, levei uma cópia impressa para uma outra comunidade bem longe - a idéia era verificar se a escrita dos Werekena podia ser compreendida pelos Baré em Boa Vista. O resultado foi positivo.

Agora vem o mais difícil, conseguir verba para publicar. O projeto está com a FOIRN e também com a Secretaria de Educação do Município. E quem sabe alguém se interesse por publicar.



Referências
Cordeiro, Florêncio e outros. Maye yamunhã bungu - A construção do bongo. Texto e ilustrações produzidos pelos alunos da Escola Indígena Diferenciada de Anamuim, São Gabriel da Cachoeira. A ser publicada quando obtivermos ajuda.
 
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