domingo, 14 de novembro de 2010 1 comments

Muros de Coimbra II

Coimbra, 2009
sexta-feira, 12 de novembro de 2010 0 comments

Muros de Coimbra


 Coimbra, 2009
domingo, 7 de novembro de 2010 0 comments

Novas funções para velhas igrejas

Igreja transformada em livraria em Maastricht
sexta-feira, 15 de outubro de 2010 4 comments

Grandes professores!

Yũbuesa resewara


Purãga awasemu
Apuderi asasemu
Anhegai, se anama ita irumu
Sikaisa upe,
Yũbuesa upe,
Pinimasa upe.
Apita xĩga sasiara
Ti resewa ayũbue ayupe tupé.
Kuxima kariwa ti tãbue kuaye
Kuiri waa yawe
Kuiri suri ayũbue
Apitana waa upe, tuyue

Kuarire sunde kiti,
Yayupe kuri tipiti
Reputari rame rekua panhe maã rese,
Reyui kua kiti.
Rekuarã kuri, mame upita Bimiti.

Yane raira ita rupi,
Yane rimiariru ita runde.
Yasu yamãduai purãga
Takuarã awa yãde,
Takuarã awa aita.
Yepeasuarã yapita.


Florêncio Cordeiro da Silva

Outubro / 2007
Publicada em  IPÊ - Indios Pensamento e Educação. UFMG
segunda-feira, 11 de outubro de 2010 0 comments

Domingo: jornal, lasanha e muita discussão

Domingo é dia de missa, lasanha, família reunida. “O papai vai comprar jornal”. Folha! Estadão! Diário do Grande ABC! Pela manhã, começa a discussão. “O Estadão é reacionário”, eu dizia... “A Folha é bagunçada”, dizia meu irmão. “É preciso saber das notícias da região”, ponderava meu pai.

A mamãe tentava em vão convencer a todos a ir à missa. Meu pai não tinha escolha. Nós três a convencíamos de que queríamos dormir. Depois da missa, o papai chegava com um dos três jornais, pão, leite e uma quantidade gigantesca de queijo para começar a preparar a lasanha... Mmmmmmmmmm...

Depois do almoço, ainda na mesa da cozinha, começavam as discussões sobre o conteúdo do jornal. Política era quase sempre o tópico. Os mais velhos lembravam o “milagre”, os mais jovens lembravam que pagamos a conta por muito e muito tempo. Um elogiava o hospital construído pelo Alckmim, o outro lembrava a situação calamitosa em que as escolas paulistas se encontram graças a tantos anos de tucanada. Um falava bem das estradas paulistas. Outro respondia, indignado, que os preços dos pedágios eram absurdos, mais caros que os preços europeus e que não havia transparência em quanto as empresas terceiras gastavam e quanto recebiam.
Meu pai se irritava com a idade altíssima em que o brasileiro se aposenta. Meu irmão ponderava que a previdência estava falida no mundo todo. Um lembrava o direito à educação, à saúde, ao saneamento básico, à reforma agrária – outro lembrava os custos dessas reformas.

Avaliávamos, ouvíamos uns aos outros, aprendíamos com liberdade – com “excesso de liberdade” nas palavras da mamãe. Na hora de votar, cada um seguia seus princípios, ideais, bolso, e até religião. Todos, nas suas mais diferentes escolhas, acreditavam (e acreditam) em um país melhor.
domingo, 8 de agosto de 2010 1 comments

Questões de língua e de meio ambiente - Aldo Rebelo e seu falso patriotismo

O deputado Aldo Rebelo se diz um grande defensor da "língua da pátria" - ironicamente, mais conhecida como língua portuguesa (os linguistas preferem falar em Português Brasileiro, mas isso é outra história). Para defendê-la, criou o projeto de lei 1676/99, que declarava lesivo ao patrimônio cultural brasileiro "todo e qualquer uso de palavra ou expressão em língua estrangeira" (art. 4º). Ao formular o projeto de lei, ignorou as manifestações dos linguistas, representados pela ABRALIN e pela ALAB, e da própria Academia Brasileira de Letras. Não entendeu o deputado que o domínio pleno de uma língua está na capacidade de expressão e compreensão nos seus registros orais e escritos e que os estrangeirismos são apenas vestígios dos contatos entre povos: almofada (Árabe), chocolate (Nahuatl, ou talvez de algum idioma Maia), igarapé (Tupinambá), sutiã (Francês), futebol (Inglês), etc.

O uso de textos, escritos ou falados, para expressar conhecimentos parece ser algo que Aldo ignora completamente. Aziz Ab’Saber enviou ao comitê do tal código florestal um dossiê explicando os tipos de ambiente do Brasil e a necessidade de preservá-los. Anos de pesquisa séria e comprometida com o meio ambiente, completamente ignoradas - para não dizer que devem ter parado na lata do lixo. Muitos outros pesquisadores batem na mesma tecla (uma pequena amostra pode ser encontrada aqui). Comunista de fachada, o deputado tende a se defender dizendo que se trata de criar mais espaços para produção de alimentos - Manuela Carneiro da Cunha o desmente: "Quem está limitando o acesso às terras a 'quem quer produzir' não são [...] os índios, os quilombolas, as unidades de conservação e a pequena propriedade rural, e sim a parte tecnologicamente mais atrasada e predatória da pecuária [que consegue a façanha de ter menos de um boi por hectare]" (confira aqui).

Aldo deveria saber que preservar uma língua não é uma guerra boba contra estrangeirismos. Trata-se de um conceito muito mais abrangente (e abstrato) de dar condições de vida e soberania aos falantes (coisa que o tal código desconhece); respeitar, divulgar e incentivar o conhecimento produzido na língua (e não ignorar seus cientistas); investir em educação de qualidade, e tudo mais que costumam chamar de "utopias".
terça-feira, 27 de julho de 2010 1 comments

A Criança em Ruínas

Há cerca de dois anos, recebi da Amiga-Portuguesa o livro de poemas "A Criança em Ruínas" de José Luís Peixoto. O autor está sendo considerado uma das grandes revelações da literatura portuguesa. Confesso que não conhecia nem a fama, nem os livros - só os descobri há pouco, ao procurar informações para colocar neste blog (confira aqui). Foram os poemas que me cativaram.

"A Criança em ruínas" trata da sucessão de perdas, de desilusões que separam a infância da vida adulta. Se a infância é o tempo da alegria, da família - sua ruína é a morte do pai, da mãe e a distância em relação às irmãs. Só o amor é capaz de dar alento ao poeta, mas este descobre no "eu te amo" apenas um instrumento para o prazer. Morte e desilusão amorosa são portanto as duas esferas em que se consolida a ruína da criança - duas esferas bem marcadas na organização do livro com simples e claros I e II.

A parte I é marcada pelo tempo do poema:

"o poema é quando eu podia dormir até tarde nas férias
do verão e o sol entrava pela janela, o poema é onde eu
fui feliz e onde eu morri tanto, o poema é quando eu não
conhecia a palavra poema..."

Tempo em que havia domingo, bem definido em o silêncio solar das manhãs.


A parte II é dedicada ao amor, ou antes, ao desamor, à separação. A amada também remete à infância,

"de quando ficávamos juntos à porta da tua avó e para as pessoas que passavam
éramos namorados".

Fragmentados ao longo dos poemas estão o amor de criança, os sonhos de união, os primeiros toques, mas também as primeiras lágrimas, o entender a felicidade como silêncio:

"eu acordarei nos teus braços e não direi
nem uma palavra, nem o princípio de uma palavra, para não estragar
a perfeição da felicidade"

Mas não estará neste silêncio, a razão de toda perda?

"na noite. olhávamos pela última vez e despedimo-nos sem sequer
nos conhecermos."


A Criança em Ruínas
José Luís Peixoto
Edições Quasi
ISBN 9789895521685



sábado, 17 de julho de 2010 0 comments

De Storm



Um vulcão no meio de Los Angeles, uma era glacial súbita, vários tipos de meteoros, os mais diferentes povos extraterrestres, o cinema americano não tem mais por onde inventar cenas apocalípticas. Há algumas semanas, assisti a uma versão holandesa do "apocalipse". Ao invés de puro delírio de cineasta, cenas gravadas combinadas a vídeos da época. "De Storm", filme de Ben Sombogaart lançado em 2009, trata da grande imundação de 1953, quando o dique de Zeeland simplemesmente não aguentou a força das águas.

Naquela época, as equipes meteorológicas locais não trabalhavam à noite e, por isso, ninguém percebeu o estrago iminente. Foi preciso amanhecer para que o resto da Holanda e o mundo soubessem o que havia acontecido. Mais de 1800 pessoas morreram.

O filme conta essa história do ponto de vista de uma jovem de 18 anos mãe solteira. A garota, hostilizada pela sociedade da época, parte numa busca deseperada pelo bebê que ela sabe estar vivo, mas que é assumido como morto. Junto com ela, vamos nós expectadores, por um mundo de solidariedade e cobiça; de homens que juntos trabalham para reconstruir o dique; e de donos de hotéis que cobram fortunas dos desabrigados que esperam por socorro.

O trailler pode ser visto aqui. O vídeo acima é da banda holandesa Blof.

Geef niet op! Don't give up!
segunda-feira, 12 de julho de 2010 2 comments

WK

Há tempos não se via Amsterdam tão holandesa. Até no dia da Rainha, a festa é dos turistas e estrangeiros. Mas, ontem, Amsterdam era holandesa. O Inglês deu lugar ao Holandês. Aqui e acolá, uma bandeira espanhola. O respeito pelo outro está acima de tudo — sempre!

Chegamos ao Museumplein exatamente na hora do jogo. Já no hino uma ironia

Een Prince van Oranje
ben ik, vrij onverveerd,
den Koning van Hispanje
heb ik altijd geëerd

(Um príncipe de Orange,
eu sou, livre e sem medo.
O rei da Espanha,
eu sempre honrei).

Memórias de um tempo em que os espanhóis mandavam por aqui. Os telões eram gigantescos, mas faltaram colinas para que fosse possível enxergá-los de longe. Caminhamos. Todos de Laranja, a cor da dinastia. No caminho uma imensa TV em uma loja e algumas pessoas assistindo ao jogo dali. Paramos. Era preciso ver o jogo, mesmo que o que víamos era decepcionante.

Intervalo.

Leideseplein. O laranja das camisetas dava lugar a corpos suados, tatoos. Cerveja. Pouca. Por 5,20 euros, ninguém se arriscava — e, geralmente, quem o fazia se esquecera de perguntar o preço. Hop Hop Holland! Em tempos de WK, não se grita Netherlands — nome criado para dar mais autonomia aos países baixos, especialmente a Frísia e Limburgo. Hop Hop Holland! E eles lutaram... Mas Robben perdia todas as oportunidades criadas. Que maldito treinador não colocou Wesley Sneijder na frente? Irritações do Namorado... Eu apenas assisto. E torço. Muito. É preciso vencer.

Intervalinho.

O duelo recomeça. Os guerreiros milhonários já estão cansados. Questão de tempo para ver o triunfo espanhol. O cartão vermelho encerra a luta. Calma, ainda há chance, eles têm de levar para os penaltis. Não o fazem. Desejam a vitória, mas já estão fracos para lutar. E de repente, gol. Let’go home.

How? I’m hungry... Ok, let’s eat first. O jogo ainda não terminou, mas as filas já começam a se formar.

So, where we go? Everybody is going to the Centraal. Better to go to Zuid.

Silêncio. Amsterdam queria ouvir mais Holandês, mas só pôde ouvir o silêncio.

O silêncio é quebrado apenas por casais que discutem. As mulheres lembravam que era só um jogo, brincadeira. Os homens lembravam que o futebol é a guerra dos tempos de paz. Era preciso vencer. Mas não venceram. A derrota da seleção revitaliza as próprias frustrações.

De Leideseplein a Zuid. 30, 40 minutos? Não tínhamos relógio. Apenas sei que chegamos à estação meia-noite e cinco. Trem. Em 15 minutos estávamos em Hoofddorp. Cadê a chave da bicicleta? Procura-se... Enfim, encontramos no chão, ao lado da bicicleta. Terá caído neste minuto ou há horas atrás? Melhor agradecer ao Papai do Céu. Home. Rose wine. Internet. WOW! It is already 3.30. Good night.
sexta-feira, 9 de julho de 2010 0 comments

Trinta anos sem Vinicius



As poesias do Vinicius podem ser encontrada na Brasiliana da USP. Infelizmente, eles não disponibilizaram as crônicas, menos conhecidas. Como não tenho os livros por aqui, me lembrei de crônicas que li no colégio, sobre os "tipos", com os quais nos deparamos ao ir ao cinema. A imagem do "chupador de caramelos" nunca saiu da minha cabeça. Ao procurar na internet, "Vinicius e cinema", acabei a encontrando aqui.
terça-feira, 6 de julho de 2010 3 comments

Um país de preconceitos

A Globo - não posso dizer sempre a Globo, pois temos também a Veja e o UOL para nos envergonhar. No Observatório da Imprensa - o melhor lugar para saber o que está acontecendo no Brasil -, saiu uma critíca severa à reportagem (ou palhaçada) da Globo, veja aqui. Lamentável!
sábado, 3 de julho de 2010 0 comments

O Jornalismo marrom ataca novamente

"Indiferentes à Copa, índios trocam os jogos do Brasil por 'peladas' no quintal", esse é o título de uma reportagem aparentemente despretenciosa no UOL. Só aparentemente... A reportagem é uma clara demonstração do anti-indigenismo da imprensa brasileira (haja vista, o caso Veja X Viveiros de Castro).

A jornalista visitou uma comunidade indígena Guarani durante o jogo do Brasil e viu poucas pessoas no centro comunitário assistindo ao jogo e crianças jogando uma pelada no quintal. Dessas duas imagens, concluiu "Torcer pela seleção brasileira à maneira indígena é sinônimo de vestir e enfeitar as casas com algum verde e amarelo, mas sem abandonar o ritmo desacelerado de hábito nem sofrer ou se revoltar pelo resultado". No decorrer do texto, entretanto, o diretor da Associação Indígena explica que muitos estavam vendo o jogo em casa (mas a jornalista não se deu ao trabalho de visitar as casas para ver). Os que foram ao centro, saíam antes. Demonstração de falta de interesse? Dá a entender a jornalista do UOL... Eu diria que é o jeito deles de se comportarem diante de um jogo patético... (Meu Namorado, holandês, ao ver a linda atuação do Brasil no comecinho do primeiro tempo, também levantou e foi levar o lixo pra fora - demonstrando que não queria ver seu país levar uma goleada).

A jornalista só en passant cita o fato dos Guarani enfeitarem as casas de verde-amarelo e não comenta o fato das fotos mostrarem crianças com camisetas do Brasil. Um lugar muito pobre, mas ainda assim gastaram dinheiro com decoração e camiseta. Isso não é torcer pelo Brasil?

Eu não estava lá para ver... Mas nas comunidades indígenas em que estive no Rio Negro, sempre vi demonstrações quase ufanistas de patriotismo. Vejam as fotos:


Toda sexta-feira em Anamuim (Rio Xié), as crianças cantam o Hino Nacional e hasteiam a bandeira (foto de 2007)


Boa Vista (Içana) se preparando para o Desfile de Sete de Setembro, que reuniu na comunidade vários indígenas da região. Nesta mesma comunidade, eu vi todos cantando o Hino no dia do soldado. (Não me lembro de festa ao soldado na minha escola em Sao Bernardo do Campo).
sexta-feira, 2 de julho de 2010 0 comments

De capital das reformas sociais à capital da barbaríe

No ano em que eu nasci, 100 mil pessoas se reuniram em São Bernardo do Campo para exigir uma jornada de 40 horas semanais, para que houvesse maior estabilidade de emprego (pelo menos, 12 meses) e para repôr o prejuizo salarial de anos de inflação (a Ditadura mascarava os dados oficiais de inflação, de modo que os reajustes salarias não eram concedidos aos brasileiros). Os lideres desse movimento se reuniam na Igreja Matriz, em plena Marechal Deodoro - o coração da cidade... É emocionante a foto de Lula e outros lideres dentro da Igreja com a polícia lá fora. Pena que eu não achei a foto na internet, mas a Revista de História da Biblioteca Nacional conta essa história aqui.

Trinta anos se passaram... E hoje em dia, "estudantes" - gente estudada e não esses operários sem faculdade (como se diz lá em Sao Bernô) - manifestaram contra o vestido vermelho de uma aluna. Ontem foi o julgamento do processo da aluna contra a UNIBAN... Independente do resultado, o que diabos aconteceu com São Bernardo do Campo nesses últimos trinta anos? Que vergonha!!!
segunda-feira, 28 de junho de 2010 0 comments

Encontro


"O antigo nome do Rio Negro era Quiari. Na parte superior conserva o de Uéneyá. Entre no Amazonas na latitude austral de três gráos e nove minutos, sendo o seu maior tributario. [...] Hé espetáculo admiravel o seu encontro com o Amazonas, lutando ambos como em porfia para fazerem predominar a côr das suas aguas: mas fica o Amazonas vencedor, arrojando valente o negro para a margem oposta, o qual imperceptivelmente se vai misturando com o Amazonas, até que em breve espaço se faz dominante a côr esbranquiçada das aguas deste". Francisco de Sampaio, em viagem realizada entre 1774 e 1775 (citado por Guzman,p.22)
sábado, 26 de junho de 2010 0 comments

Desafio do lixo


Amsterdam, maio de 2010, quando começaram a limpar a cidade após a greve dos lixeiros (30/04 até meados de maio)


Onde vamos pôr
as caixas de isopor
onde diabos vamos pôr
as nossas caixas de isopor

como nos livrar
das plásticas palavras
ditas á mesa do bar
palavras que vão dar no mar

poluir é ir juntando o que resta de nós
após as refeições
nossos retos mortais

venenosas ilusões
milhões de garrafas vazias
cheias de alergias e aflições

onde vamos pôr
as caixas de isopor
a vida de mentira
a ira, do desamor

temos que encontrar o lugar
no deserto aberto
em nossos corações

Gilberto Gil.
http://www.gilbertogil.com.br/sec_musica.php?page=2
© Gege Edições Musicais ltda (Brasil e América do Sul) / Preta Music (outros países)
quinta-feira, 24 de junho de 2010 1 comments

Quantas Alagoas?

"Olhemos para este Haiti e para os outros mil Haitis que existem no mundo, não só para aqueles que praticamente estão sentados em cima de instáveis falhas tectónicas para as quais não se vê solução possível, mas também para os que vivem no fio da navalha da fome, da falta de assistência sanitária, da ausência de uma instrução pública satisfatória, onde os factores propícios ao desenvolvimento são praticamente nulos e os conflitos armados, as guerras entre etnias separadas por diferenças religiosas ou por rancores históricos cuja origem acabou por se perder da memória em muitos casos, mas que os interesses de agora se obstinam em alimentar", escreve Saramago em um dos seus últimos textos no blog.
Não só escreveu sobre, como também enviou para o Haiti uma jangada de pedra. Diferente do que fizeram os haitianos ricos, que abençoados por Deus, foram os menos afetados pela tragédia.

Os coronéis alagoanos também não devem ter sido muito afetados pelas águas dos rios Mundaú e Paraíba. E é fácil prever que não vão contribuir em nada para ajudar os desabrigados da enchente no estado. Ou talvez, eu esteja enganada - sempre há um coronel disposto a contribuir em troca de votos nas próximas eleições ou de uma rapariga formosa para ajudar nos afazeres domésticos.

Saramago não vai para o céu, dá a entender o jornal do Vaticano. Para o céu, só vão os mais ricos haitianos, os devotos coréneis nordestinos, os padres pedófilos, e, claro, Vossa Santidade o Papa Bento XVI.
segunda-feira, 21 de junho de 2010 3 comments

Esperança imortal?



Desapontada com a comemoração ao gol à moda de Maradona que o jogador Luís Fabiano "fez" ontem contra a Costa do Marfim - logo a Costa do Marfim, que estava jogando pertinho de casa pela primeira vez na história. Com raras exceções, como esta aqui, a imprensa brasileira foi conivente.

Mais desapontada ainda de saber que Maluf é candidato a vice-govenador do Rio Grande do Sul.

Difícil acreditar na esperança imortal de Ana Carolina, citando Eliza Lucinda.
domingo, 6 de junho de 2010 5 comments

Duas aldeias

Os habitantes de Thurdorf no norte da Suiça e Nova Vida no Rio Negro (norte do Brasil) com certeza nunca ouviram falar um dos outros. Os suiços têm uma noção tão vaga de Amazônia, quanto os barés têm uma noção vaga de Europa. Exceto, talvez, pelos jovens que sonham em conhecer o mundo oposto.

Oposto? Em uma viagem curtinha, descobri mais semelhanças do que poderia supor a princípio.

A escola é o ponto de maior semelhança. Os professores de Thurdorf e os de Nova Vida têm como desafio ensinar crianças de várias idades na mesma sala - o chamado 'ensino multiseriado'. Em aldeias, o número de alunos é muito pequeno para que os governos suiço e brasileiro disponibilizem um professor para cada série - a solução nos dois países foi juntar em uma mesma sala crianças de séries diferentes. Para os governos é uma economia e tanto; para os professores, um desafio de criatividade e competência.

Os mesmos professores também têm de lidar com o bilinguismo. Na Suiça, as crianças aprendem em casa um dos dialetos de "suiço alemão", que varia de "cantão" (ou estado) para "cantão". Não há, no entanto, material didático para ensinar em "suiço alemão". Além disso, todo suiço deve aprender também o "alemão padrão". Em Nova Vida, como em todas as aldeias indígenas, o desafio é alfabetizar na língua materna (apesar da ausência de material didático) e ao mesmo tempo introduzir o Português (para o qual há material didático, mas que trata de uma realidade completamente alheia ao universo indígena).

Para lidar com o mundo em que vivem, os professores de Thurdorf e de Nova Vida incentivam atividades na floresta. Sim, em Thurdorf há ainda um pedaço da floresta negra. Os alunos devem conhecer os tipos de plantas, os instrumentos utilizados no trabalho agrícola tradicional, etc. Em Nova Vida, esse tipo de ensino está começando, chama-se de "escola indígena diferenciada". Os professores incentivam a pesquisa com os idosos sobre os tipos e usos das plantas da região, as atividades artesanais tradicionais, etc. Nas duas "aldeias", os professores estão aprendendo a ensinar para preparar o cidadão para viver bem na comunidade em que vivem - e só depois, consciente de sua identidade linguistico-cultural, conhecer outros mundos.



Alunos da comunidade de Nova Vida, preparando festa.


Thurdorf vista de uma torre no meio da floresta negra.
domingo, 9 de maio de 2010 2 comments

A vovó

De algum lugar no norte de Minas Gerais - uma Minas Gerais, com cara de sertão, longe, muito longe das riquezas que deram o nome ao estado - nasceu a vovó. Da infância, pouco sabemos. Sabe-se que vinha de família humilde, que a casa era de pau-à-pique (onde habitava também o barbeiro, cujo ferrão deixou-lhe marcada para vida toda). Da onde vinha a família? Permanece o mistério bem brasileiro - talvez africanos, talvez portugueses, e a vovó lembra sempre de "uma avó que o avô foi buscar no mato".

Em Minas conheceu o vovô
Em Minas nasceu o primeiro filho.
E ali começou a viagem...
Primeira parada, Regente Feijó, nasceu o papai.
Mais adiante, Pirapozinho, nasceu a titia.
Cinco anos mais tarde, a família já estava em Santo André, onde nasceu a caçula.

O menino mais velho e a menina mais velha eram muuuuuito especiais, por isso a vida da vovó passou a ser dedicada a cuidar deles. A filha caçula a ajuda nessa missão. E o "folgado do meu pai" lhe presentou com os netos e com a nora que ela adora - não estou sendo irônica, a vovó se dá super bem com a mamãe.

Falar da vovó é falar da família. Mas também é falar de uma cultura enoooorme. Cultura que não adquiriu nos livros - indecifráveis para ela. Mas cultura de mulher brasileira. A vovó não se importa em entrar em um terreno baldio para coletar uma planta (que só ela é capaz de identificar) e dali criar um remédio. Os mais importantes planta em vasos no quintal, onde também estão flores lindíssimas - daquelas que só brotam na casa da vovó - e as cachorrinhas vira-lata que ela e a tia vivem adotando.

E já que estamos na hora do almoço, que saudades da comidinha simples da vovó. Frango de panela, o feijão mais gostoso do mundo, Mmmmmmmmmmmm....

FELIZ DIA DAS MÃES!!!!!!!!!!!!




Vovó, meu irmão mais velho, e o netinho (meu sobrinho - que saudades!!!)


Vovó, eu (eu sei, a foto está bem louca), titio e titia
sábado, 1 de maio de 2010 5 comments

O Bongo - a canoa e o livro





Com quantos paus se faz uma canoa? Um! Apenas um!

Os Werekena, povo Arúak, usam apenas um grande tronco de madeira para construir o "bongo" - uma canoa gigantesca que serve para a comunidade de Anamuim no Alto Rio Xié levar seus produtos até São Gabriel da Cachoeira. Uma viagem impressionante tanto pela beleza natural quanto por permitir que os Werekena de cada parte do rio troquem mensagens, discutam política, revejam os parentes, etc.

Em 2006, os professores da Escola Indígena Diferenciada de Anamuim propuseram aos seus alunos de ensino fundamental que acompanhassem os mais velhos na construção de um bongo comunitário. Os professores aproveitam o tema para explicar aos alunos conceitos de medida, aerodinâmica, etc. O livro mostra também como todos os membros da comunidade e parentes de comunidades vizinhas se juntam para construir o bongo.

O resultado da pesquisa desses jovens indígenas transformou-se em um livro ilustrado, em que são descritas detalhadamente todas as etapas da construção: a escolha da árvore, o corte, a tarefa de esculpir a canoa na madeira, a queima, até a festa da primeira viagem.

Quando estive em Anamuim, trabalhei com os professores na edição do manuscrito para a forma digital. A pedido dos próprios autores, fizemos uma tradução para o Português (que fica no finalzinho do livro para não atrapalhar a leitura dos falantes de Nheengatú). No ano passado, levei uma cópia impressa para uma outra comunidade bem longe - a idéia era verificar se a escrita dos Werekena podia ser compreendida pelos Baré em Boa Vista. O resultado foi positivo.

Agora vem o mais difícil, conseguir verba para publicar. O projeto está com a FOIRN e também com a Secretaria de Educação do Município. E quem sabe alguém se interesse por publicar.



Referências
Cordeiro, Florêncio e outros. Maye yamunhã bungu - A construção do bongo. Texto e ilustrações produzidos pelos alunos da Escola Indígena Diferenciada de Anamuim, São Gabriel da Cachoeira. A ser publicada quando obtivermos ajuda.
domingo, 25 de abril de 2010 0 comments

Magistério Indígena


"Cursistas" de Magistério Indígena para falantes de Nheengatú, comunidade de Assunção do Içana, outubro/2007.


Em São Gabriel, estão organizando mais uma etapa do Magistério Indígena. Trata-se de uma iniciativa da prefeitura e do governo do estado do Amazonas para dar uma formação, equivalente ao ensino médio, para que jovens indígenas sintam-se preparados para educar.

Uma educação diferenciada em que se pretende formar cidadãos para viver bem em suas próprias comunidades. Por isso, se vê como essencial o ensino por meio de pesquisa - a descoberta dos mitos com os antigos; as técnicas tradicionais de cultivo; a matemática por trás das formas das coméias, da fabricação de canoas; o funcionamento do rádio comunitário; a medicina tradicional; formas de desenvolvimento sustentável, entre outros tantos temas, escolhidos de acordo com as necessidades de cada grupo.

Também estão preocupados com as melhores formas de alfabetizar em língua materna - um desafio comum a todos os povos indígenas. (Não se engane: O fato de professores de Português ou Inglês terem uma quantidade absurda de materiais didáticos, não torna a tarefa do educador mais simples - talvez até atrapalhe).

A seu favor, esses jovens professores tem o apoio de suas comunidades. Engraçado como as pessoas mais simples, muitas vezes analfabetas, acreditam na importância da educação - muito mais do que nós que a temos. Basta ver a eleição. No Rio Negro, o discurso da educação sempre elege prefeito (mesmo que nem sempre as promessas sejam cumpridas). Em São Paulo, terra de tanta "gente estudada", Maluf foi eleito tantas vezes, apesar do "professorinhas mal casadas"; Mário Covas é mitológico, apesar da ovada de professores mal-remunerados... Só para lembrar os casos mais marcantes.

E nas próximas eleições: Que valor daremos à educação?
domingo, 18 de abril de 2010 1 comments

Duas visões

Em 2009, dois filmes contaram a história extremamente pesada de estupros seguidos de assassinato: O Segredo dos Seus Olhos (El Secreto de Sus Ojos, Argentina/Espanha) e Um Olhar do Paraiso (Lovely bones, Hollywood).

Ambos tratam do desespero daqueles que buscam justiça e que tentam reconstruir a própria vida, após perderem suas amadas - a filha/irmã/amiga Susie, uma garotinha de 14 anos em Lovely Bones; e uma jovem linda esposa, no caso do filme argentino.

Com orçamento de $65 milhões, o filme americano apela para efeitos especiais (criados por Spielberg), uma vez que a garotinha assassinada acompanha do além a desestruturação de sua família, a busca incansável de um pai por justiça. E se já não bastasse, a menina teme ainda pela vida da irmã que tem de conviver com o vizinho assassino.

Com orçamento de apenas €2 milhões, O Segredo dos seus olhos mantém-se no nível do real. Aqui, o ponto de vista é de um funcionário público que tenta entender 25 anos depois o caso policial que mais marcou sua vida no Tribunal de Justiça. "Não A Justiça, mas UMA Justiça", diz a doutora (provavelmente promotora) Irene Menéndez Hastings (Soledad Villamil).

A Justiça, porém, tanto nos Estados Unidos quanto na Argentina, se mostra completamente incapaz. Cabe às vítimas procurarem alguma forma de justiça (ou vingança?).

O Segredo dos seus olhos obriga a pensar... Destrói nossas concepções sobre o bem e o mal e coloca-nos diante do 'ser humano' e suas paixões. O filme é duro, tenso, arrasador. Oscar de Melhor Estrangeiro e maior bilheteria na Argentina nos últimos 35 anos super merecidos.

Lovely Bones é maniqueista. Além disso, a necessidade hollywoodiana de aparar todas as arestas, torna o final do filme insuportável.
quinta-feira, 15 de abril de 2010 0 comments

Professor de Português

Eu cansei de ouvir, sendo apresentado a alguém, a um médico, por exemplo:

- Ah, o Senhor é professor de português? Ih rapaz, eu cometo tanto erro...

O cara já começa a se reprimir, eu penso assim:

“Nossa, que maldita essa minha profissão, calamos a boca da cidadania...!"


Ataliba Teixeira de Castilho por Ataliba Teixeira de Castilho, entrevista realizada por Olga Coelho e Aline Cruz em 2001.
terça-feira, 13 de abril de 2010 0 comments

Dabaru: o destino dos indígenas na cidade


Na foto, eu, Joaquim, Nancy e o pequeno Diego na Casa do Indio no Dabaru.



Segundo Stradelli, Dabaru é um “velho instrumento de supplicio indígena, formado por dous fortes esteios fincados no chão, unidos por uma forte travessa á altura de quatro a cinco metros. A travessa estava suspenso por uma corda um grosso bloco de pedra, prompto a despencar sobre o paciente, logo que fosse cortada a corda. A morte era produzida por esmagamento”. A palavra tem origem no Baré ou no Baniwa.

Por ironia, Dabaru é também o nome de um dos bairros da periferia de São Gabriel da Cachoeira.

No Dabaru, moram Baré, Tukano, Dessano... todos aqueles que decidiram deixar a comunidade em área indígena em busca de uma vida melhor cidade. Buscam principalmente postos de saúde mais bem equipados, escolas públicas (principalmente para formação de jovens em ensino médio), e a possibilidade de aprenderem a usar computador e outras 'coisas de branco'.

Ali, muito da cultura é recriado: centro comunitário, o fato de todo mundo se conhecer, etc. Mas no Dabaru, não há espaço para roça, então é preciso viajar de ônibus um bocado todos os dias para roçar. Ou comprar beijú e farinha dos que chegam de área. O preço, no entanto, não é nada convidativo.

Bairro periférico, há poucas formas de diversão; a violência aumenta progressivamente; os preços da cidade são de arrepiar; a elite da cidade dificilmente contrata indígenas para trabalhar no comércio; muitas casas não tem banheiro. Se a prefeitura precisa economizar em luz elétrica e água encanada, fará primeiro no Dabarú (e nos bairros vizinhos, Areal, Miguel Quirino).

Rapidinho, o sonho da cidade se transforma logo em sonho de voltar a comunidade.

Para que ninguém abandone a própria comunidade, bastaria investir na formação de professores indígenas e garantir que o sistema de saúde chegasse nos momentos mais necessários na comunidade.
sexta-feira, 9 de abril de 2010 3 comments

A Aula

Na semana passada, fui convidada para dar uma aula sobre Fonologia de Contato em Leiden. A idéia era discutir com alunos de mestrado como o Nheengatú (ou língua geral amazônica) teria reestruturado seu sistema devido ao contato. O mesmo trabalho que eu havia apresentado no México (cf. resumo), mas de uma forma mais participativa :)

A aula era de apenas duas horinhas com intervalo de quinze minutos... Eu sei, é rídiculo comparado as quatro horas contínuas da pós na USP. Mas os holandeses dizem - e faz sentido - que ninguém é capaz de se concentrar por mais de 45 minutos contínuos.

Eu estava em pânico - como sempre! - Afinal quando cheguei aqui há três anos, eu assisti a muitas aulas de mestrado na mesma Universidade de Leiden. Logo que comecei a aula fiz uma brincadeirinha sobre 'estudar fonologia de contato' com uma brasileira falando inglês :) A piadinha de nerd ajudou a desfazer a tensão inicial :)

Ao invés de jogar um montão de conteúdos teóricos, decidi levar um handout com dados e guiar os alunos para descobrirem por eles mesmos as mudanças que teriam ocorrido no Nheengatú nos últimos 150 anos por conta do contato com o Baniwa, o Baré e o Werekena. Foi uma maneira divertida de estudar o conceito de 'convergência lingüística' a partir dos dados do Nheengatú.
quinta-feira, 8 de abril de 2010 1 comments

(In)Certezas

No mês de março, meu tempo concentrou-se em duas experiências profissionais. A primeira foi o Workshop on Mood and Modality, organizado em Leiden. A segunda, o preparo para atender um convite para ministrar uma aula sobre Fonologia de Contato para um grupo de mestrado em Leiden. Em ambos, trabalhei com 'história da língua' (no caso, o Nheengatú ou língua geral amazônica).

Eu tenho uma tendência forte a trabalhar com as origens das formas lingüísticas. No mestrado, trabalhava com Historiografia Lingüística. E todos os artigos que publiquei até agora tratam de fases de desenvolvimento de uma língua. Apesar disso, esse tema sempre me deixa em pânico.

No workshop, apresentei evidências lingüísticas e históricas para sustentar a hipótese de que paa (o reportativo do Nheengatú) seja um empréstimo do Baniwa. Como disse um Linguista-Importante, todos os argumentos convergem para que a sua hipótese esteja correta. Mesmo assim, ao apresentar estava em pânico. Por que? Porque sempre que entramos no campo da história, as evidências se tornam mais fluidas, dependemos de documentos alheios, do intangível...

Meus orientadores não cansam de me dizer. Fazer ciência é fazer hipóteses... Uma hipótese se diferencia de pura especulação pelo fato de utilizarmos todas as ferramentas teóricas e dados coletados para sustentar nossa hipótese. Dizem ainda, no seu desenvolvimento você vai estar sempre reformulando hipóteses (quem não faz isso, trata ciência como religião - é dogmático). Preciso aprender a lidar com isso e ser menos positivista...

P.S.: Falo sobre a aula no próximo post.
terça-feira, 6 de abril de 2010 2 comments

O Rio Xié


O Rio Xié não está no Google Maps, mas existe :) No Google, dá para ver apenas uma frestra na terra em paralelo ao Rio Içana.

Habitado por 966 pessoas (segundo o relatório do distrito de saúde de 2008), o rio Xié é território dos Werekena. Trata-se de um rio de muito difícil navegação, porque há corredeiras - ou "cachoeiras" como dizem no dialeto gabrielense - que impedem a passagem de barcos (até mesmo de canoas, como se pode ver na foto).

A separação entre o sul e o norte do Rio Xié não é apenas detalhe do relevo, traduz-se também nos hábitos e na língua. E, segundo Aikhenvald (1998), até o dialeto do Werekena ainda falado no sul do Rio Xié difere dos dados coletados sobre o dialeto de Anamuim (a comunidade na fronteira norte do Xié).

Quanto aos hábitos, observa-se a diferença em como norte e sul se colocam em relação às religiões "estrangeiras". Ao sul do Rio Xié, prevalece o protestantismo, enquanto ao norte, o catolicismo. Na Europa, as brigas entre essas religiões já deixaram de ser relevantes há mais de duzentos anos. No Xié, no entanto, temos a impressão de que estamos à beira da Noite de São Bartolomeu - com o exagero próprio dos blogs, claro!

Enquanto os Werekana discutem, perdem a possibilidade de criar movimentos fortes para defender sua terra, sua cultura, sua língua. A FOIRN está dando apoio para que o norte e o sul se entendam.

Acredito que uma das formas de reestabelecer o diálogo e o orgulho de ser Werekena é a partir de projetos de revitalização da língua Werekena. Já em 1903, Nimuendajú registrou que a maioria dos Werekena era bilíngue em Nheengatú e Werekena (Christino 2007). Hoje, passados mais de cem anos, há apenas 20 falantes idosos e, possivelmente, cerca de 100 adultos a compreendem. Resgatar uma língua é resgatar um povo e sua cultura.

Quer saber mais:Marcio Meira. O tempo dos patrões.
domingo, 4 de abril de 2010 0 comments

Páscoa

Ufa! Finalmente a Páscoa para renovar as energias depois de um tempo de correria (e muita alegria com meus visitantes ilustres).

Na Páscoa holandesa, as casas são decoradas com galinhas e ovos cozidos pintados pelas crianças. A primeira vez que fui à casa dos pais do Namorado, me supreendi:

- Por que tua mãe gosta tanto de galinhas?
- É Páscoa!!!

Para mim, continuou estranho até que um Amigo-Engenheiro me explicou que era lógico, afinal galinhas botam ovos e não coelhos. Simples, não? Mas, eu, temoisa, continuo preferindo o Coelhinho da Páscoa com ovos de chocolate... Hummmmm... Gostoso!

E como dizem os holandeses:

FIJNE PAASDAGEN!!!!!!!!!
segunda-feira, 15 de março de 2010 1 comments

Com referência!



As idéias circulam na internet, uns imitam os outros com ou sem aspas. Pode-se dizer que o homo sapiens é um plagiador por natureza. Até uma das nossas grandes descobertas - o fogo - pode ter sido copiada do nosso inimigo extinto de Neanderthal .

O Nheengatú tem até uma partícula só para dizer que a fonte da informação não pode ser recuperada. Por exemplo, as verdades estabelecidas historicamente e os mitos não têm uma referência clara, e isso é indicado obrigatoriamente pela partícula paa.

A primeira descrição dessa partícula foi feita por Stradelli em um dicionário de 1929. Por ironia, em 2000, um padre, estabelecido no Amazonas, escreveu uma gramática da mesma língua e coloca exatamente a mesma definição de 1929, sem referência alguma. Com um agravante, Stradelli chama de "forma" (o que não significa nada, mas também não está errado), enquanto o padre diz "verbo" (o que significa muita coisa, e está bem errado).

Absurdo, né?

E enquanto o padre copia, eu trabalho para entender a forma, sua função e origem. E lá vai eu falar sobre isso em Leiden.
sexta-feira, 12 de março de 2010 1 comments

Em homenagem ao Glauco (1957 - 2010)

Apenas deixo um link para o Zé Malária , uma crítica comédia aos paulistas que não conhecem a floresta (e principalmente, àqueles que como eu, inventam de pesquisá-la).

O Zé Malária e o Glauco não sabiam, mas a floresta é bem menos perigosa que a metropóle paulistana.
domingo, 7 de março de 2010 0 comments

A casa de Anne

A Kelli me perguntou a minha opinião sobre a Casa de Anne Frank em Amsterdam. Para quem não sabe, Anne Frank foi uma garotinha judia que, durante a guerra teve de se esconder nos fundos de uma casa em Amsterdam.

Escondida atrás de uma estante de livros, Anne escreveu um diário, em que conta o horror da guerra, o medo de serem encontrados pelos nazistas, o silêncio obrigatório. Enfim, um livro que todo adolescente deve ler.

A casa converteu-se em um museu que atrái turistas do mundo todo. Leitores, curiosos... Esse excesso de turistas me incomoda. Não é possível sentir o silêncio, o vazio, o que foi a guerra e a vida de Anne Frank.

Incomoda também o tom marqueteiro do museu. Quem quiser pode ao final da visita, enviar um video para a família comentando. A idéia é ótima para o Van Gogh, o Louvre, mas estúpida para um museu que trata de um dos momentos mais terríveis e dolorosos da história da humanidade.

Há claro um tom informativo, que vale a pena conhecer: os vídeos com entrevistas a Otto Frank e outras pessoas que conviveram com Anne; as cartas e fotos da época, etc. O museu seria excelente se eles controlassem o número de visitantes.

Antes de visitar o museu, vale a pena conferir os filmes sobre a guerra produzidos na Holanda, como já comentei aqui.
quinta-feira, 4 de março de 2010 4 comments

A nossa mania de colocar vírgula onde dizem que não devíamos

Ops! No post anterior, cometi um erro crasso: Coloquei uma vírgula entre o sujeito e e verbo, veja:

Muito estudo, rendeu-lhe uma análise fonológica.

CRUCIFICA-ME!!!!!!!!!!!!

Eu deveria simplesmente ir lá e apagar, mas achei que seria melhor me perguntar: Por que eu fiz isso? Por que é tão comum quando não estamos atentos às "regras da gramática" colocarmos uma vírgula entre o sujeito e e verbo? Para quem odeia gramática o sujeito é "Muito estudo".

Outra pergunta relacionada é por que a professora de Português não precisa nos ensinar que não precisa colocar vírgula entre objeto e o verbo, ou seja ninguém escreve:

Muito estudo rendeu-lhe, uma análise fonológica.
(COMPLETAMENTE ESTRANHO)

Uma resposta pode vir da noção de tópico. Sem tentar ser precisa aqui, vamos dizer que o tópico é aquilo do que se fala, o tema da conversa. É algo velho, no sentido de que tanto o falante quanto o ouvinte conhecem o tópico (caso contrário, teríamos uma conversa de doido).

Em geral, o tópico e o sujeito são o mesmo, mas nada impede que eu coloque o objeto direto como tópico. E daí a vírgula é obrigatória, veja:

Um análise fonológica, o estudo lhe rendeu.

Assim, ao invés de criticarmos tanto aqueles que erram, que "pecam contra Santa Madre Língua Portuguesa", seria legal pensar também no que esses "erros" falam sobre como as línguas funcionam.

Não estou dizendo que vale tudo. Escrever é questão de cumprir certas leis e se você não as cumprir não vai conseguir um emprego, ok? Sem falar que um blog com muitos "erros" é insuportável.
domingo, 28 de fevereiro de 2010 0 comments

Uma guerreira no estudo do Sateré

Há cerca de seis ou sete anos, uma jovem amazonense formada na UFAM se propôs a estudar uma língua indígena de sua terra. Com o apoio do Prof. Stefanni, a garota escreveu um projeto e enviou para universidades públicas do norte. Apenas por desencargo de consciência enviou também para a UNICAMP.

Por ironia, as universidades do norte não estavam interessadas nessas tais de línguas da terra. E foi a conceituadíssima UNICAMP que aceitou a jovem. A garota vendeu um fusca velho e foi em busca de um sonho. O marido a apoiou na decisão e a filhinha foi junto.

Muito estudo, rendeu-lhe uma análise fonológica e agora a Doutora Raynice descreveu a morfologia e a sintaxe dos Sateré. Na platéia, estavam o marido e as crianças, claro. O melhor de tudo é que ela agora é professora da UFAM e poderá orientar outras 'raynices, frantomés, ana carlas' amazônicas a estudar as línguas de suas terras.
domingo, 21 de fevereiro de 2010 1 comments

A noite feminina em cidades pacíficas: Amsterdam e Gabriel




Ontem, encontrei amigas em Amsterdam e fomos ao Lolas, um bar com música alta, cheio de gente bonita. Cada uma veio de um canto da cidade e nos encontramos em Leidseplein. Para voltar para casa, cada uma também seguiria seu destino individualmente.

Em São Gabriel, eu e a Amiga-Professora-Educação-Física também saíamos bastante sozinhas. Iamos ao Puranga ou ao Kuka - os bares frequentados pelo pessoal da saúde e militares. Mais tarde, fiz outras amizades, com mulheres que viviam na cidade, e passei a dançar no Pé de Cará.

Amsterdam e São Gabriel permitem que suas belas mulheres saíam sozinhas - para dançar, para beber, para paquerar -, porque conciliam segurança e transporte noturno de qualidade. Em Amsterdam, qualquer garota pode pegar um ônibus, que tem horário certo para passar, e ir para sua casa tranquilamente. O preço varia entre 3,90 (dentro de Amsterdam) até 6 euros (para cidades mais distantes, como a minha Hoofddorp). Em Gabriel, é ainda mais fácil, as lotações esperam os clientes na frente dos bares. Basta pagar 5 reais e te levam para qualquer lugar da cidade.

Transporte de qualidade com preço razoável e segurança garantem a liberdade que as mulheres paulistas e cariocas perderam há muito tempo.
sábado, 20 de fevereiro de 2010 1 comments

Minha lista de filmes (2009)

O UOL acabou de publicar a lista dos melhores filmes do ano segundo os críticos. Esses caras listam filmes que não estão nos grandes circuitos - e que muitas vezes são de fato fantásticos. Lembro-me do tempo de colégio, em que a Amiga-Jornalista (na época, Adolescente-Intelectualizada) nos convencia a ir ao Belas Artes.

Minha lista de 2009 é completamente holywoodiana, curtinha e totalmente influenciada pela moda 3D:

Gran Torino - Cito Sérgio Alpendre : "Eastwood consegue a proeza de se repetir e ao mesmo tempo realizar uma tocante ode à amizade e à diferença"

Up - Na primeira parte do filme, vemos em um trailer a crueldade com que a vida real trata pessoas simples. Na segunda parte, tudo se transforma em sonho e magia, como se espera de um filme da Pixar.
Fui assistir o filme com uma garotinha de quatro anos. No final, ela perguntou para sua mãe: "Mãe, cadê a velhinha?". A mãe, estabanada, respondeu de sopetão: "A velhinha morreu, oras". Duro para um filme infantil, não?

Avatar - Não poderia faltar o lançamento de final de ano que mais arrecadou na história do cinema. O que dizer? Lindo, mas ainda prefiro a minha floresta real, não maniqueista, sem o mito do bom selvagem de Rousseau. Vale a diversão e o explendor da tecnologia bem usada.
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010 0 comments

O espírito olímpico dos homens de gelo

O Comitê das Olímpiadas de Inverno - aquelas que nós brasileiros ignoramos completamente - decidiu cancelar a prova de salto com esqui feminino. Trata-se da única prova em que as mulheres - sempre as mulheres - não podem participar. Se não há espectadores, incentive-os! A Olímpiada é o grande momento de incentivo ao esporte.

Para saber mais (e tentar fazer algo): Let Women Ski Jump
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010 2 comments

Sobre o tráfico...

Quando cheguei em São Gabriel em agosto do ano passado, fui abalada pela notícia de um crime hediondo: um jovem havia sido posto em chamas. O motivo? Os índigenas com quem eu trabalhava e os motoristas das lotações logo me esclareceram: tráfico.

Há pouco mais de cinco anos, dizem os moradores da cidade, este tipo de crime era impensável, fazia parte apenas do imaginário popular do que seriam cidades grandes como Barra (Manaus), Rio ou São Paulo.

Por que jovens gabrielenses - filhos de comerciantes, caboclos ou índigenas - se envolvem com o tráfico? A resposta é a mesma que leva jovens de favelas no Rio, imigrantes africanos nas ruas de Amsterdam: dinheiro. Variam, claro, as moedas e os valores. Uma viagem de Sao Gabriel à Manaus de voadeira não vale mais que mil euros (o que é rídiculo se pensarmos no risco).

Não há dúvida de que esses garotos devem ser punidos, mas o que dizer dos usuários? Todos reconhecemos que este é uma vítima, que o vício é uma doença, mas até que ponto jovens de classe média alta - paulistanos, cariocas, europeus - foram iludidos? O vício é uma doença, sim, mas também uma escolha: escolhe-se "experimentar". O usuário, por sua própria situação, está condenado, mas, ao decidir se destruir, condenou também jovens que nunca tiveram escolhas.
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010 0 comments

Resposta confusa a um amigo (Ou sobre a Amazônia)

Se você quer uma viagem super-tranquila, com belas paisagens e um bom hotel, é caríssimo mesmo.

Hotéis no centro de Manaus não são caros, mas o máximo que você pode fazer é ir para o encontro das águas (viagem curtinha, mas que as agências de turismo fazem um pacote de um dia).

Melhor ir para as cidades do interior. Minhas amigas amazonenses recomendam "Alter do Chão". Há também uma festa importante em junho em Parintins (Festa do Boi).

Eu sempre vou para São Gabriel da Cachoeira. Cidade lindíssima! onde está o Pico da Neblina. O Marcelo (guia) faz 10 dias de passeio para o Pico da Neblina com carregadores, visita aos Yanomamis, hotel na cidade (1 noite) e tal por R$2.500 por pessoa (mas precisa de um grupo de 6). São Gabriel também tem outras opções: os lagos coloridos, a praia, a ilha do Sol, a ilha da Juísa. O problema, entretanto, é chegar lá (consulte preços na TRIP).
sábado, 16 de janeiro de 2010 1 comments

Que Pasa?

"Que pasa?" Nome perfeito para a festa da Sugar Factory (Amsterdam, 14 de janeiro).
Coloque músicas de todos os países latinos... O Brasil também entra, com funck carioca. Junte agora uma batida eletrônica. TU-TU-TU-TU-TU... "Que pasa?" TU-TU-TU-TU... Horas de dor de cabeça no dia seguinte... TU-TU-TU-TU...
domingo, 10 de janeiro de 2010 0 comments

Foz do Içana


Já ouviu falar do Rio Içana?

Ele nasce na Colômbia, cruza a fronteira e desce cortando a floresta até desaguar no Rio Negro. Na Colômbia, o Isana é habitado pelos Kuripako. No Brasil, o Içana é território Baniwa. No baixo Içana, substituiu-se a língua Baniwa pelo Nheengatu, mas ainda se mantém muitas tradições.

Eu cheguei a presenciar Dabukuri em Assunção e também se ouve muitas histórias sobre Nhãpirikuli por aquelas bandas... O ritual de iniciação dos adolescentes - Kariamã -, entretanto, não é mais realizado, pois desde da chegada de Sofia Muller (missionária evangélica), não se vê com bons olhos a atuação dos pajés. E se não tem pajé, não tem Kariamã, e assim os jovens perdem a oportunidade de ouvir os conselhos dos antigos e se prepararem para a vida adulta.

Quer saber mais? Entra no blog do André Baniwa.
segunda-feira, 4 de janeiro de 2010 0 comments

Um bom microfone e uma máscara no chão

2010 começa com "Feliz Ano Novo!!!"... Vamos realmente fazer um ano NOVO? Pelo comentário do Boris Casoy na tevê, acho que não...

Não basta pedir desculpas, o que se ouviu foi uma clara demonstração de como o preconceito social está enraizado em nossa sociedade. Haverá punição? O jornalista será demitido? Ou ele vai continuar formando a opinião pública (especialmente em ano de eleição)?
 
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