quinta-feira, 4 de março de 2010

A nossa mania de colocar vírgula onde dizem que não devíamos

Ops! No post anterior, cometi um erro crasso: Coloquei uma vírgula entre o sujeito e e verbo, veja:

Muito estudo, rendeu-lhe uma análise fonológica.

CRUCIFICA-ME!!!!!!!!!!!!

Eu deveria simplesmente ir lá e apagar, mas achei que seria melhor me perguntar: Por que eu fiz isso? Por que é tão comum quando não estamos atentos às "regras da gramática" colocarmos uma vírgula entre o sujeito e e verbo? Para quem odeia gramática o sujeito é "Muito estudo".

Outra pergunta relacionada é por que a professora de Português não precisa nos ensinar que não precisa colocar vírgula entre objeto e o verbo, ou seja ninguém escreve:

Muito estudo rendeu-lhe, uma análise fonológica.
(COMPLETAMENTE ESTRANHO)

Uma resposta pode vir da noção de tópico. Sem tentar ser precisa aqui, vamos dizer que o tópico é aquilo do que se fala, o tema da conversa. É algo velho, no sentido de que tanto o falante quanto o ouvinte conhecem o tópico (caso contrário, teríamos uma conversa de doido).

Em geral, o tópico e o sujeito são o mesmo, mas nada impede que eu coloque o objeto direto como tópico. E daí a vírgula é obrigatória, veja:

Um análise fonológica, o estudo lhe rendeu.

Assim, ao invés de criticarmos tanto aqueles que erram, que "pecam contra Santa Madre Língua Portuguesa", seria legal pensar também no que esses "erros" falam sobre como as línguas funcionam.

Não estou dizendo que vale tudo. Escrever é questão de cumprir certas leis e se você não as cumprir não vai conseguir um emprego, ok? Sem falar que um blog com muitos "erros" é insuportável.

4 comentários:

Kelli Machado disse...

Esse post é típico de uma linguista!!! HAHAAHAHA

Eduardo Veríssimo disse...

Também me questiono a respeito da vírgula nessa frase:

"Coloquei uma vírgula entre o sujeito e e verbo, veja:"

Nesse caso, o "veja" tem uma função completamente diferente do resto da frase. Não é o caso de colocar um ponto no lugar dela?

Aline da Cruz disse...

Como você é chato!

"Veja" pode ser considerado como uma 'coordenada assindética' (gostou do palavrão?) e nesse caso, o uso da vírgula ao invés de "ponto final" deixa o meu texto mais rápido. Se está certo? Acho que não, mas também não chega a ser um erro crasso.

Unknown disse...

Gurias, qual o significado da frase abaixo?

"Quem nada faz"

Guardem a resposta.
Na verdade, a vírgula entre sujeito e predicado não é vetada absolutamente. É mais uma regra convencionalizada mesmo. Voltemos à frasezinha lá de cima, agora de roupa nova:

"Quem nada, faz"

São significados diferentes, né? Pois sim: em casos de sujeito oracional, a vírgula auxilia a definir o bloco do sujeito (que apresenta verbo) e o verbo principal da frase. É claro que a vírgula aí não é obrigatória, mas, como vimos, ela é um recurso para evitar a ambiguidade. Imaginem então quando a forma verbal se confunde com um substantivo:

"Quem teme ameaça" (versus "Quem teme, ameaça")

"Quem ama cobra" (versus "Quem ama, cobra")

Bom, acho que isso ajuda a mostrar que a pontuação nada mais é que um recurso que traz pistas de significado, auxiliando a leitura e a expressão escrita.

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