quinta-feira, 10 de novembro de 2011 0 comments

O adeus de Alice

A vovó está no hospital há dois meses. Um acidente daqueles que envolvem caminhos do nosso cérebro, a paralizou. Nesses dois meses, não tive tempo (e de certa forma nem vontade) de escrever nesse espaço. Foi um tempo de aprendizagem, de conhecer melhor meus tios e minha mãe. Também foi um tempo de conhecer auxiliares de enfermagem e alguns pacientes - suas famílias, seus cuidadores.
Nas útimas semanas, conheci Dona Alice. Conheci? Conheci seus familiares, conheci as pessoas que a amavam. Ouvi sobre sua bondade, sua dedicação à família. Uma mulher guerreira, que vivia para os netos e que sofreu muito ao perder duas netas em acidentes de carro. Passei duas semanas próximas à Dona Alice, sem jamais ouvir sua voz. Nossa comunicação se dava apenas pelo olhar. Uma vez, segurei sua mão e disse que ouvira dizer que ela rezava muito, que era uma excelente avó e que cozinhava como ninguém. Seus olhinhos enxeram de água; e os meus, também.
Sempre soube que era questão de dias para que Dona Alice partisse. Ouvi médicos e familiares discutindo. Os primeiros queriam dar a ela uma morte sem mais cortes, sem quimioterapia. Os segundos queriam todos os recursos - esperavam assim um milagre. Duas perspectivas igualmente difíceis. Ao cabo de duas semanas, acompanhada de sua fiel amiga dos últimos dezoito anos, Dona Alice partiu.
 
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