Eu sou uma mistura confusa das várias narrativas que se introjetaram em minha alma por meio de leituras, de caminhar pelo mundo com o ouvido atento para desabafos de tantas mulheres guerreiras que confiaram sua história a mim; e das narrativas que eu mesma escrevi em minhas andanças pelas Américas e pela Europa.
A Carol escreveu há algum tempo um post sobre a angústia da plenitude de estar grávida. A primeira vez que li, causou-me estranhamento, confesso que me irritei com o texto. Mas, vez ou outra, as palavras da Carol no Porto, ressoam na minha cabeça.
O problema não é a questão de se a gravidez é ou não um momento de plenitude. O problema é que nenhuma outra vitória feminina é tão comemorada como a de ser mãe - que mais do que motivo de felicidade da família, tornou-se na sociedade brasileira uma obrigação.
Uma vez, uma amiga de infância conseguiu um emprego no maior jornal do país. Era seu grande sonho desde o colegial e sempre nos pareceu uma grande ilusão. Anos passaram, algumas de nós casaram, conseguiram empregos estáveis. E a Amiga-Jornalista seguiu seu caminho. Quebrou a cara muitas vezes; conheceu picaretas, conheceu um cara legal; conseguiu trabalhos bem chatos, conseguiu trabalhos menos chatos. E de repente, nos enviou uma mensagem contando que finalmente havia conseguido emprego no jornal de seus sonhos. Mais que isso, estava trabalhando na seção de que mais gostava.
A comemoração das amigas reduziu-se ao silêncio. Não era inveja, não era desprezo. Simplesmente a informação sobre o trabalho não despertou atenção. Não era assim uma notícia como "Estou grávida". Era uma notícia básica, irrelevante do tipo "Troquei de carro" (se bem que esta tende a ser super-valorizada).
E foi então que ficou claro para mim, que uma mulher no Brasil só existe quando é mãe.
(Hoofddorf, março de 2009)
P.S.: Encontrei este texto perdido entre os "papeis digitais".
Lembra que falamos de William Stokoe AQUI? Nada melhor do que contar a história do "cara" em ASL, não é? rsrsrsr Mmmmm... como nem todo mundo vai conseguir entender, esbocei aqui uma legenda - assim, meus queridos alunos, podem ter uma ideia do que se conta no filme:
0,0:00:07.00 -
0 :00:09.00, - Você
sabia
0,0:00:09.00
- 0 :00:11.00,
- que antes de meados de 1950
0,0:00:13.00
- 0 :00:15.00,
- A língua de sinais americana
(ASL) foi
0,0:00:15.00
- 0 :00:17.00,
- vista como um Inglês
"quebrado"
0,0:00:17.00
- 0 :00:21.00,
- e não era reconhecida
0,0:00:23.00
- 0 :00:25.00,
- como uma língua verdadeira
0,0:00:25.00
- 0 :00:27.00,
- Como parte do Mês da História
do Surdo
0,0:00:27.00
- 0 :00:29.00,
- nóss queremos lembrar e honrar
0,0:00:31.00
- 0 :00:33.00,
- William "Bill"C.
Stokoe, Jr.,
0,0:00:37.00
- 0 :00:39.00,
- o linguista é conhecido por
0,0:00:39.00
- 0 :00:41.00,
- mostrar que a ASL é uma língua
de verdade
0,0:00:41.00
- 0 :00:43.00,
- similar a línguas orais
0,0:00:43.00
- 0 :00:47.00,
- com sentidos próprios
0,0:00:47.00
- 0 :00:49.00,
- com estrutura e sintaxe própria
0,0:00:49.00
- 0 :00:53.00,
- É por isso que nós o admiramos.
0,0:00:53.00
- 0 :00:55.00,
- pelo o que ele fez
0,0:00:57.00
- 0 :00:59.00,
- A pesquisa de Stokoe foi
revolucionária
0,0:01:01.00
- 0 :01:03.00,
- muitos linguistas pensavam que
a ASL
0,0:01:03.00
- 0 :01:05.00,
- era uma língua primitiva
0,0:01:05.00
- 0 :01:07.00, - que
imitava a língua oral
0,0:01:07.00
- 0 :01:09.00,
-
0,0:01:09.00
- 0 :01:11.00,
- O uso da ASL foi proibido
0,0:01:11.00
- 0 :01:15.00,
- em muitos cenários educacionais
0,0:01:17.00
- 0 :01:19.00,
- Frequentemente, as pessoas
surdas eram punidas por
0,0:01:19.00
- 0 :01:21.00,
- usarem ASL nas escolas de
surdos
0,0:01:21.00
- 0 :01:23.00,
- assim como na Universidade de
Gallaudet
0,0:01:23.00
- 0 :01:25.00,
- Entretanto, quando os
estudantes estavam
0,0:01:25.00
- 0 :01:29.00,
- juntos em seus dormitórios
0,0:01:31.00
- 0 :01:33.00,
- e em outros lugares, eles
sinalizavam
0,0:01:35.00
- 0 :01:37.00,
- o que ajudava a preservar a
língua
0,0:01:37.00
- 0 :01:39.00,
- Quando Stokoe chegou em
Gallaudet
0,0:01:39.00
- 0 :01:41.00,
- ele sabia pouco
0,0:01:41.00
- 0 :01:45.00,
- sobre a surdez e sobre a língua
de sinais
0,0:01:45.00
- 0 :01:47.00,
- Ele tinha sido contratado
0,0:01:47.00
- 0 :01:49.00,
- para ensinar inglês
0,0:01:49.00
- 0 :01:51.00,
- Como os outros professores de
Gallaudet,