sábado, 30 de janeiro de 2016

No dia das mulheres (atrasado)

A Carol escreveu há algum tempo um post sobre a angústia da plenitude de estar grávida. A primeira vez que li, causou-me estranhamento, confesso que me irritei com o texto. Mas, vez ou outra, as palavras da Carol no Porto, ressoam na minha cabeça.

O problema não é a questão de se a gravidez é ou não um momento de plenitude. O problema é que nenhuma outra vitória feminina é tão comemorada como a de ser mãe - que mais do que motivo de felicidade da família, tornou-se na sociedade brasileira uma obrigação.

Uma vez, uma amiga de infância conseguiu um emprego no maior jornal do país. Era seu grande sonho desde o colegial e sempre nos pareceu uma grande ilusão. Anos passaram, algumas de nós casaram, conseguiram empregos estáveis. E a Amiga-Jornalista seguiu seu caminho. Quebrou a cara muitas vezes; conheceu picaretas, conheceu um cara legal; conseguiu trabalhos bem chatos, conseguiu trabalhos menos chatos. E de repente, nos enviou uma mensagem contando que finalmente havia conseguido emprego no jornal de seus sonhos. Mais que isso, estava trabalhando na seção de que mais gostava.

A comemoração das amigas reduziu-se ao silêncio. Não era inveja, não era desprezo. Simplesmente a informação sobre o trabalho não despertou atenção. Não era assim uma notícia como "Estou grávida". Era uma notícia básica, irrelevante do tipo "Troquei de carro" (se bem que esta tende a ser super-valorizada).

 E foi então que ficou claro para mim, que uma mulher no Brasil só existe quando é mãe.

(Hoofddorf, março de 2009)



P.S.: Encontrei este texto perdido entre os  "papeis digitais".

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