quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Sobre o tráfico...

Quando cheguei em São Gabriel em agosto do ano passado, fui abalada pela notícia de um crime hediondo: um jovem havia sido posto em chamas. O motivo? Os índigenas com quem eu trabalhava e os motoristas das lotações logo me esclareceram: tráfico.

Há pouco mais de cinco anos, dizem os moradores da cidade, este tipo de crime era impensável, fazia parte apenas do imaginário popular do que seriam cidades grandes como Barra (Manaus), Rio ou São Paulo.

Por que jovens gabrielenses - filhos de comerciantes, caboclos ou índigenas - se envolvem com o tráfico? A resposta é a mesma que leva jovens de favelas no Rio, imigrantes africanos nas ruas de Amsterdam: dinheiro. Variam, claro, as moedas e os valores. Uma viagem de Sao Gabriel à Manaus de voadeira não vale mais que mil euros (o que é rídiculo se pensarmos no risco).

Não há dúvida de que esses garotos devem ser punidos, mas o que dizer dos usuários? Todos reconhecemos que este é uma vítima, que o vício é uma doença, mas até que ponto jovens de classe média alta - paulistanos, cariocas, europeus - foram iludidos? O vício é uma doença, sim, mas também uma escolha: escolhe-se "experimentar". O usuário, por sua própria situação, está condenado, mas, ao decidir se destruir, condenou também jovens que nunca tiveram escolhas.

2 comentários:

Kelli Machado disse...

É a mensagem que passa o tempo todo em Tropa de elite, ne? A classe média cria ongs pra consertar o mal que ela mesma gera...

Aline da Cruz disse...

Oi Kelli,
Nao tinha pensando em Tropa de elite quando escrevi. A crítica a algumas ONGs, com a mentalidade de "ajudar", e organizada por "não-caretas", é super válida.
Mas é muito importante valorizar aquelas ONGs, em que um setor da sociedade mais afetado por um problema se organiza.

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