Domingo é dia de missa, lasanha, família reunida. “O papai vai comprar jornal”. Folha! Estadão! Diário do Grande ABC! Pela manhã, começa a discussão. “O Estadão é reacionário”, eu dizia... “A Folha é bagunçada”, dizia meu irmão. “É preciso saber das notícias da região”, ponderava meu pai.
A mamãe tentava em vão convencer a todos a ir à missa. Meu pai não tinha escolha. Nós três a convencíamos de que queríamos dormir. Depois da missa, o papai chegava com um dos três jornais, pão, leite e uma quantidade gigantesca de queijo para começar a preparar a lasanha... Mmmmmmmmmm...
Depois do almoço, ainda na mesa da cozinha, começavam as discussões sobre o conteúdo do jornal. Política era quase sempre o tópico. Os mais velhos lembravam o “milagre”, os mais jovens lembravam que pagamos a conta por muito e muito tempo. Um elogiava o hospital construído pelo Alckmim, o outro lembrava a situação calamitosa em que as escolas paulistas se encontram graças a tantos anos de tucanada. Um falava bem das estradas paulistas. Outro respondia, indignado, que os preços dos pedágios eram absurdos, mais caros que os preços europeus e que não havia transparência em quanto as empresas terceiras gastavam e quanto recebiam.
Meu pai se irritava com a idade altíssima em que o brasileiro se aposenta. Meu irmão ponderava que a previdência estava falida no mundo todo. Um lembrava o direito à educação, à saúde, ao saneamento básico, à reforma agrária – outro lembrava os custos dessas reformas.
Avaliávamos, ouvíamos uns aos outros, aprendíamos com liberdade – com “excesso de liberdade” nas palavras da mamãe. Na hora de votar, cada um seguia seus princípios, ideais, bolso, e até religião. Todos, nas suas mais diferentes escolhas, acreditavam (e acreditam) em um país melhor.
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