quinta-feira, 24 de junho de 2010

Quantas Alagoas?

"Olhemos para este Haiti e para os outros mil Haitis que existem no mundo, não só para aqueles que praticamente estão sentados em cima de instáveis falhas tectónicas para as quais não se vê solução possível, mas também para os que vivem no fio da navalha da fome, da falta de assistência sanitária, da ausência de uma instrução pública satisfatória, onde os factores propícios ao desenvolvimento são praticamente nulos e os conflitos armados, as guerras entre etnias separadas por diferenças religiosas ou por rancores históricos cuja origem acabou por se perder da memória em muitos casos, mas que os interesses de agora se obstinam em alimentar", escreve Saramago em um dos seus últimos textos no blog.
Não só escreveu sobre, como também enviou para o Haiti uma jangada de pedra. Diferente do que fizeram os haitianos ricos, que abençoados por Deus, foram os menos afetados pela tragédia.

Os coronéis alagoanos também não devem ter sido muito afetados pelas águas dos rios Mundaú e Paraíba. E é fácil prever que não vão contribuir em nada para ajudar os desabrigados da enchente no estado. Ou talvez, eu esteja enganada - sempre há um coronel disposto a contribuir em troca de votos nas próximas eleições ou de uma rapariga formosa para ajudar nos afazeres domésticos.

Saramago não vai para o céu, dá a entender o jornal do Vaticano. Para o céu, só vão os mais ricos haitianos, os devotos coréneis nordestinos, os padres pedófilos, e, claro, Vossa Santidade o Papa Bento XVI.

Um comentário:

Tapecuim disse...

Haiti
Gilberto Gil
Composição: Letra: Caetano Veloso/ Música: Gilberto Gil
(ouvir a música no link: http://www.gilbertogil.com.br/sec_musica.php?page=3)

Quando você for convidado pra subir no adro da Fundação Casa de Jorge Amado
Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos
E outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados
E não importa se olhos do mundo inteiro possam estar por um momento voltados para o largo
Onde os escravos eram castigados
E hoje um batuque, um batuque com a pureza de meninos uniformizados
De escola secundária em dia de parada
E a grandeza épica de um povo em formação
Nos atrai, nos deslumbra e estimula
Não importa nada
Nem o traço do sobrado, nem a lente do Fantástico
Nem o disco de Paul Simon
Ninguém
Ninguém é cidadão
Se você for ver a festa do Pelô
E se você não for
Pense no Haiti
Reze pelo Haiti

O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui

E na TV se você vir um deputado em pânico
Mal dissimulado
Diante de qualquer, mas qualquer mesmo
Qualquer qualquer
Plano de educação
Que pareça fácil
Que pareça fácil e rápido
E vá representar uma ameaça de democratização do ensino de primeiro grau
E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital
E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto
E nenhum no marginal
E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual
Notar um homem mijando na esquina da rua sobre um saco brilhante de lixo do Leblon
E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo diante da chacina

111 presos indefesos
Mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos
Ou quase brancos quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres
E todos sabem como se tratam os pretos
E quando você for dar uma volta no Caribe
E quando for trepar sem camisinha
E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba
Pense no Haiti
Reze pelo Haiti

O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui

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