domingo, 8 de agosto de 2010 1 comments

Questões de língua e de meio ambiente - Aldo Rebelo e seu falso patriotismo

O deputado Aldo Rebelo se diz um grande defensor da "língua da pátria" - ironicamente, mais conhecida como língua portuguesa (os linguistas preferem falar em Português Brasileiro, mas isso é outra história). Para defendê-la, criou o projeto de lei 1676/99, que declarava lesivo ao patrimônio cultural brasileiro "todo e qualquer uso de palavra ou expressão em língua estrangeira" (art. 4º). Ao formular o projeto de lei, ignorou as manifestações dos linguistas, representados pela ABRALIN e pela ALAB, e da própria Academia Brasileira de Letras. Não entendeu o deputado que o domínio pleno de uma língua está na capacidade de expressão e compreensão nos seus registros orais e escritos e que os estrangeirismos são apenas vestígios dos contatos entre povos: almofada (Árabe), chocolate (Nahuatl, ou talvez de algum idioma Maia), igarapé (Tupinambá), sutiã (Francês), futebol (Inglês), etc.

O uso de textos, escritos ou falados, para expressar conhecimentos parece ser algo que Aldo ignora completamente. Aziz Ab’Saber enviou ao comitê do tal código florestal um dossiê explicando os tipos de ambiente do Brasil e a necessidade de preservá-los. Anos de pesquisa séria e comprometida com o meio ambiente, completamente ignoradas - para não dizer que devem ter parado na lata do lixo. Muitos outros pesquisadores batem na mesma tecla (uma pequena amostra pode ser encontrada aqui). Comunista de fachada, o deputado tende a se defender dizendo que se trata de criar mais espaços para produção de alimentos - Manuela Carneiro da Cunha o desmente: "Quem está limitando o acesso às terras a 'quem quer produzir' não são [...] os índios, os quilombolas, as unidades de conservação e a pequena propriedade rural, e sim a parte tecnologicamente mais atrasada e predatória da pecuária [que consegue a façanha de ter menos de um boi por hectare]" (confira aqui).

Aldo deveria saber que preservar uma língua não é uma guerra boba contra estrangeirismos. Trata-se de um conceito muito mais abrangente (e abstrato) de dar condições de vida e soberania aos falantes (coisa que o tal código desconhece); respeitar, divulgar e incentivar o conhecimento produzido na língua (e não ignorar seus cientistas); investir em educação de qualidade, e tudo mais que costumam chamar de "utopias".
 
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