domingo, 24 de julho de 2011

Eternos operários de Germinal

Diante da perspectiva de que a usina de Fukushima pudesse explodir, manifestei-me desfavoravelmente a usinas nucleares, especialmente em uma região de falha tectônica. Alguém, provavelmente um físico, contestou que não havia outra solução para o Japão. Para um crescimento com toda a tecnologia que o Japão dispõe e boa parte do resto do mundo inveja, talvez não haja mesmo outra solução.

Mas daí vem a pergunta sobre até que ponto precisamos de toda essa tecnologia? Ou, em uma versão mais moderada da pergunta, até que ponto não é possível investir em tecnologias que usem formas de energia menos agressivas? Vivendo na Holanda, utilizando bicicleta para distâncias curtas e trem para distâncias longas, olhando para a janela enorme do apartamento que permite que eu não precise acender a luz durante o dia, tenho a impressão de que podemos pelo menos tentar usar menos energia.

Nas viagens pela Holanda, olho para os grandes moinhos modernos e me pergunto "energia eólica é bobagem com dizem colegas no Brasil? Então, por que os holandeses constroem tantos moinhos?" Não tenho respostas, apenas me junto aos 40 mil chilenos que em 20 de maio questionaram a construção de hidroelétricas na Patagônia, um dos biomas mais bem preservados da terra e com uma quantidade de seres que só ocorrem naquele lugar (além de ser um lugar fantástico, como vi com meus próprios olhos em 2005, veja fotos aqui).

E me impressiono com a crueldade com que parecem estar sendo tratados os construtores de Jirau. A  reportagem descreve cenas tão dantescas, misturadas ao rídiculo do canal de TV que finge que manifestações são atos de "vandalismo", que custei a acreditar no que li. Somos nós eternamente operários das minas no Germinal.  

Escrito em maio/2011

5 comentários:

Kelli Machado disse...

Quando mais tecnologia se tem, mais se busca soluções do passado para "salvar" o futuro dando uma repaginada naquilo que os nossos avós já faziam e usavam tipo: sacolas ecológicas, plantar a própria horta, recorrer ao vento, andar de bicicleta.

Eduardo Veríssimo disse...

Se você achar que sacolinha plática é tecnologia, tudo bem, né, Kelli... :)

A verdade é que esses problemas todos devem cessar quando se conseguir dois feitos tecnológicos que nada tem a ver com as nossas vovós (a minha inclusive usa sacolinhas plásticas): energia solar e armazenamento de energia eficiente.

A verdade é que quase toda a energia que consumimos hoje que não seja de origem nuclear é indiretamente energia solar. Então temos que buscar maneiras mais eficazes de captar essa energia sem intermediários. Outra coisa importante é guardar essa energia pra usar, por exemplo em carros. As baterias hoje são péssimas por diversos motivos. Mais promissoras, em minha opinião, são as flywheels.

Sem querer polemizar... Essas soluções do passado não parecem assim lá grandes soluções. Não se se pensar em escala Grande SP. :D

Aline da Cruz disse...

Nossa! Criou-se uma discussão aqui.
Excelente a busca por maneiras eficazes de captar e armazenar energia solar. Seria ótimo ter carros com energia solar para sair à noite, aventurar-se por trilhas desconhecidas, etc. Mas para ir e vir do trabalho, em cidades como São Paulo, vale mais a pena pensar em transporte coletivo, afinal não há espaço físico para todo mundo usar o carro, né?
Amsterdã, que está longe de ser antiquada, cobra uma fortuna de quem ousa estacionar um carro no centro. Em compensão, há bondes e faixas para bicicletas (soluções do passado, super bem aproveitadas).

Eduardo Veríssimo disse...

It's all about money.
Há alguns dias passou uma matéria na tv falando que os preços dos estacionamentos em SP e RJ estão se tornando mais caros a cada ano, subindo muito acima da inflação. Em algum tempo parar o carro vai se tornar impraticável para a classe média, e, ultrapassado esse limite, a única possibilidade é usarem transporte público.

Quanto a energia solar, o negócio é ter grandes usinas de energia solar mesmo, para gerar eletricidade para alimentar nossos carros elétricos. :) Aliás, aquela usina em forma de pregador na Espanha é legal pacas!

Mateus Castelo Branco disse...

1. Olá. Eu trabalho em um projeto de resgate de línguas indígenas. Vimos algumas de suas teses a respeito da língua Nheengatu e tivemos interesse em te contatar. Por favor, envie e-mail para: mattheus_branco@hotmail.com, se tiver interesse em ajudar. Abraço.

2. Vi que você fez contato com meu parceiro, Mateus Nobre. Por favor, se você tiver conta em um veículo de mensagens instantâneas, nos passe. Isso pode ajudar na velocidade das conversas. Abraço.

3. Só pra esclarecer: eu e o Mateus fundamos o projeto e você não faz parte dele, você serve apenas como uma fonte, uma ajuda. Escolhemos você como fonte por causa da sua vasta pesquisa sobre essas línguas. Seu nome não será publicado (a menos que você queira isso), e não iremos pressioná-la a passar nenhuma informação. Basta você dizer que não quer contribuir e não falaremos mais. Mas convenhamos, não há motivo pra você deixar de nos ajudar. Abraço.

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