sábado, 16 de abril de 2016

O mesmo coração

"Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia"
Tolstoi



Há algum tempo deixei de ter televisão em casa. Durante os anos de Holanda, a televisão não me fazia falta e depois no Brasil, levamos um tempo para decidirmos a comprá-la: uma Sony, gigante, de led que acabou por chamar atenção de alguns homens que a roubaram - o aparelho e minha paz...

Daí decidimos ficar sem televisão por tempo indeterminado. A decisão combinava com o discurso de "professora universitária" que não precisa de televisão, daquela que lê as notícias por diversos meios de comunicação - não ficando trancada na perspectiva manipuladora da Globo.

Para além do discurso, há uma mulher apaixonada por histórias longas, por histórias de amor, de ódio, de vingança. A mesma paixão que me leva para a literatura, também me leva para as novelas... Ah! Sim... Devo confessar que os capítulos iniciais de uma novela podem me cativar e me prender, como prendem à minha mãe, como prendiam à minha avó e é fácil imaginar que minhas bisavós ou tataravós também se prendiam por uma história de amor - seja essa história registrada em livros, folhetins, rádio, televisão ou agora no Youtube...

Assim, alguns dias em casa de minha mãe foram suficientes para que eu me interessasse pela história de Sila, uma jovem turca que se casa com o chefe de uma tribo do interior da Turquia. No decorrer dos capítulos (que assisto em Espanhol, na internet), a novela joga com as dicotomias turcas:

Istambul              Mardin
            Europa              Oriente Médio
atualidade          tradição 


Aparentemente a novela tenta criticar as tradições, o papel insignificante da mulher naquela sociedade, mas ao fazê-lo não deixa de ratificar os valores que condena. A autora parece consciente de que o maniqueismo não se sustenta, de que heróis e vilões têm "o mesmo coração". Em um diálogo intenso e preciso, enquanto Berzan descreve o crime que permitiu o nascimento de seu filho, Boran não o pode julgar, não pode se livrar de seus próprios pensamentos, de sua própria culpa: 

"O amor, sabes bem, o venenoso que pode ser. A diferença entre nós é que não tive a oportunidade de desculpar-me, nenhuma oportunidade".



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